Talking in bed ought to be easiest, Lying together there goes back so far, An emblem of two people being honest. Yet more and more time passes silently. Outside, the wind's incomplete unrest Builds and disperses clouds in the sky, And dark towns heap up on the horizon. None of this cares for us. Nothing shows why At this unique distance from isolation It becomes still more difficult to find Words at once true and kind, Or not untrue and not unkind.
«He put a period here, a comma there, to heighten the meaning.It came to be known as phrasing. And all he was doing was telling the story as he believed those words should be spoken. (...) Nobody did it before...Sinatra was able to turn a thirty-two-bar song into a three-act play.» - Julius LaRosa, cantor. Citado em Sinatra - The life, de Anthony Summers e Robbyn Swann
Detesto aquelas classificações totalitárias que se destinam a obrigar seja quem for a ver, ouvir ou ler seja o que for. Mas ninguém disse que era um tipo coerente: por isso, imperdível.
Época certa para fazer balanços e revisões, dizem. Por aqui, concorda-se.E se é verdade que para Portugal este foi mais um ano dickensiano («Those were the worst of times, those were the best of times» etc) a música moderna feita no burgo não esteve mal servida. Tão bem servida que, àparte discos de jazz, não condigo encontrar nenhuma gravação estrangeira que me tenha entusiasmado sobremaneira. Idade, dirão os leitores. Espero que sim, responderei.
Assim sendo, deixo o registo dos discos nacionais que me mereceram algum êxtase em 2014, sem ordem cronológica ou de importância:
* You Can't Win, Charlie Brown - Diffraction/ Refraction
* Capitão Fausto - Pesar o Sol
* Ana Cláudia (EP) - De Outono
*António Pelarigo (fado) - António Pelarigo
* Bruno Pernadas - How Can We Be Joyful In a World Full of Knowledge. * Sensible Soccers - 8
Um tipo às vezes perde-se. E então se tem como profilático
involuntário o ordenar palavras, pior ainda. Mais fácil para quem se liberta ou
está habituado ao peso dos dias, por vontade, profissão ou ambos. Mas para os
amadores, os cronistas diletantes – leia-se “os que não são pagos” – o dilema
agiganta-se: tanta coisa que acontece ( que os não-especialistas despacham com
a palavra ‘ vida’) e apesar de sabermos que não vale a pena, que ninguém quer
saber porque toda a gente sabe, os palermas insistem porque podem e têm um
blogue.
É dessa teimosia que mistura terapia com dumping que
nasceram estas crónicas lacónicas. Pequenos instantâneos que não pretendem mais
nada do que descrevê-los, sem mensagem ou moral adjacente. Está bem, pronto: é mentira.
A mera escolha das situações que servem de motivo a uma crónica implica sempre uma visão do mundo que se pretende
partilhar. No limite, seja através dos recursos que convoca – o humor, a
indignação, a análise rigorosa, a auto-depreciação, a doutrina ideológica e
mais – o cronista só quer uma coisa: ter razão, nem que seja apenas no momento
em que o leiam. Todas as reacções que provocar, boas ou más, são sinais de que
a coisa correu bem. O pior para quem escreve – e digo eu, para quem vive – é inspirar
a indiferença. Um flagelo tão próximo e comum que atinge tão depressa os que
mostram uma indignação previsível como os que tentam desesperadamente
transmitir um tédio artificial sobre tudo o que mexe, uma espécie de colchão
patético para atenuar a realidade. Mas chega de falar de mim.
Despachado o editorial, ao que interessa e que será o
formato futuro. O facto de Lisboa ser, ao que parece, uma cidade na moda em
2014 não só é merecido como tardio. Mas o verdadeiro lisboeta – ou o verdadeiro
parisiense ou o [colocar a cidade ou lugar apetecido] tem naturalmente uma
relação amor-ódio com os excelsos visitantes, porque a tem com a própria cidade
pelo simples facto de a amar. Por um estranho e maravilhoso paradoxo, quanto
mais amamos e vangloriamos o sítio onde vivemos mais desejamos que fosse um
segredo. Uma coisa só nossa, para maçar os amigos estrangeiros que nos ouvem em
reverência mas em que nós guardamos a
secreta esperança de que não divulguem a coisa. Sim, como esse restaurante
fabuloso no meio de nenhures ou a praia deserta a que só se tem acesso mediante
um curso de pára-quedismo.
Este ano trouxe a verdade: acabou. A cidade apareceu em
todas as revistas trendy; da mítica luz à tasca onde se confecciona o
melhor cozido à portuguesa a sensação do lisboeta é o mesmo híbrido: ‘claro que
isto é fabuloso mas quando é que se vão embora?’
Naturalmente tudo isto é irracional e injusto: todos os que
aqui vivem e elogiam a cidade são de repente os primeiros a não lidarem bem com
o que proclamaram. Tentamos apegarmo-nos ao que sabemos e vangloriamos; mas
depois passamos pelo engarrafamento de funâmbulos com canídeos no Chiado e
repensamos a coisa.
Há várias maneiras do lisboeta lidar com isto. A mais fácil e certa é a do reconhecimento:
Lisboa, com as suas mil aldeias miraculosamente unidas, começa a ser um
privilégio que a pouco e pouco é descoberto. Há que estar grato. Mas em rigor a
cidade ainda não está preparada para o que lhe aconteceu.
Essa é matéria de outras – tantas - conversas. Para mim, o que conta é o outro olhar, aquilo que
incomoda ou revela. Há uns dias, um rapaz inglês a viver e trabalhar na capital , perguntou-me com genuína perplexidade:« O que é que acontece às quintas-
feiras, que há sempre protestos?» O jovem vive na zona de São Bento e detectou
um padrão que eu não pude explicar. Respondi com amenidades, com a conjuntura,
sei lá. «Mas as quintas, porquê?»
É este olhar que precisamos, povo que somos e que não pratica a
auto-ironia. E foi este olhar que me provocou a mais triste resposta, nacional
e não local: «Os dias, não faço ideia. Mas para bem e para o mal, há algo que podes contar com os tugas: temos
indignação às quintas mas o Facebook nunca fecha».
Houve este tempo, leitores. Houve este tempo que apesar das vidas não passou. E é só por encaixar de forma tão perfeita no agora que dele vos falo. Indulgência vos peço.
O problema que me assolou desde cedo, como uma doença, foi o apego às palavras. Tudo isto seria pacífico e até ideal se pelo meio não tivesse que lidar com essa maçada que os eufemistas chamam de 'adolescência'.Uma chatice que num misto de revolta e resignação vejo reflectida nos meus filhos e que infelizmente não posso impedir.
Digamos, para evitar especulações, que tive de passar por isso. E, Deus, como fui chato! Apesar de um princípio prometedor - criancinha-metida-em-casa-por-prazer-a-devorar-livros -, a festa das hormonas (hoje já institucionalizadas sob o nome de código 'Erasmus' - convidou-me para algo que não estava preparado. No meu caso: raparigas.
Entendam: uma coisa é um tipo fantasiar sobre a Ana dos Cinco na privacidade do lar. Outra é ver-se confrontado com o que sonhou feito carne, osso e desdém. Sim, as raparigas.
Seria fácil para quem fosse um sujeito dotado desse sobrevalorizado atributo masculino que é a beleza. (nota-se muito o rancor?). Mas para quem como eu não era (e continua a não ser), todos os trunfos eram válidos. Graças a uma extraodinária educação e a uma atenção às canções desde criança, gerou-se uma imediata prioridade ao que se diz numa cantiga sobre o seu todo. Com o tempo, tudo se foi diluindo. Mas para um miúdo de 15 anos foi uma provação inútil e inapropriada falar de palavras antes do tempo.
O drama com My Girl, dos Madness, foi inevitável. A chegada do movimento 2-Tone, nos finais do anos 70, foi uma festa. Libertando-se dos ritmos enfadonhos do reggae e de um culto patético a um ditador - Haile Selassié, da Etiópia - os rapazes do norte de Londres faziam a sua vida integrando negros e brancos numa música dançável e anfetamínica que contagiava todos os que a ouviam e, no limite, geravam pancadaria entre as tribos urbanas (cf. Staring At Rude Boys, The Ruts).
Nesta maré, os Madness eram os meus preferidos. Os Specials concentravam a sua arte numa função política, de mensagem ( e é deles um dos mais belos hinos de combate aos anos Thatcher: Ghost Town). Mas os Madness focavam-se nos dramas pequenos, tão pequenos que por isso mesmo eram impossíveis de serem ignorados. O que cantavam - para além do gozo e da liberdade de poderem fazer o que lhes dava na gana - era o que acontecia. Era verdade. De resto, quanto mais absurdo, melhor.
É o que acontece com a extraodinária biópsia das relações quotidianas que é My Girl. Escrita e composta por Michael Barson, era um hino cockney a todos os rapazes que só querem estar sossegados, verem televisão sozinhos e não têm paciência para permanecer mais de um minuto ao telefone. Dito assim parece fácil,não é leitor mais experiente? Mas a minha provação foi outra: interromper raparigas de quem eu gostava com longas explicações sobre a letra:« E olha agora», dizia no meio da dança, « agora que ele diz 'por que é que ela não vê que só queria ver televisão em paz», etc. O número de namoradas que perdi foi incontável. E agora reconheço, tranquilo: ainda bem que não fui eu que me aturei.
Fica e ficará uma magnífica canção, crónica afectiva de todos os que amam. E isto eu ganhei.